Os Vinhos Falsos
Falsificações sempre existiram, não são novidade na história. Mas tenho absoluta convicção que estão se avolumando. Sobretudo num país como o nosso, onde o crime corre solto, soltinho. Quantas mensagens ou ligações fraudulentas você recebe por dia, amigo? Que providência você vê sendo tomada contra isso, pelos poderes competentes? Esperar o quê deles, em especial lá do Planalto, se também são “fraudes”, não é? O pior é que o problema é mundial e vai de boatos falsos a bens de consumo. Que inclui vinhos. Vejamos.
Segundo noticiário, um esquema internacional de falsificação de vinhos está inundando o Reino Unido. Gangues estão usando impressoras industriais e reproduzindo rótulos com perfeição. A popular marca australiana Yellow Tail foi uma das mais afetadas, com incalculável prejuízo financeiro e de imagem. Embora com vinhos baratos (como o Yellow Tail), mais consumidos, as fraudes fiquem mais perceptíveis, o mesmo não se aplica a garrafas mais caras e raras. Sobre isso há uma clássica história. Nos anos 2000, na Califórnia, um indonésio, Rudy Kurniawan, se infiltrou no meio de grandes bebedores de vinho. Em jantares, pedia e pagava garrafas do naipe de Petrus, Romanée-Conti, Lafite.. Claro, impressionou o meio social. Daí partiu para vender em leilões vinhos de safras míticas, auferindo aura de expert. Mas a ganância – sempre ela presente – o fez baixar a guarda. O borgonhês Domaine Ponsot descobriu que ele ofertava garrafas suas que nunca foram produzidas. No que foi seguido por outras vinícolas. Porém, a essas alturas, além de outras falcatruas, ele já vendera mais 12.000 exemplares de vinhos raros, embolsando cerca de US$30 milhões. Em 2012 o FBI invadiu a casa de Rudy e encontrou todas as provas das falsificações. Ele foi preso e deportado. ou 7 anos na cadeia, mas depois voltou à cena do crime (como uma vez, bem disse Alckmin!).
Sua má fama, por incrível que pareça, lhe ajudou nos negócios. No ado, ele enganava clientes do eixo Los Angeles-Nova York com suas picaretagens etílicas. Agora, todo mundo sabe do crime e está pagando caro por isso (estou me lembrando de um país...)! Milionários de Singapura patrocinam jantares e abrem suas adegas, deixando importantes rótulos à disposição do “alquimista” para que ele possa elaborar sua “fórmula”. Incrível, mas é isso mesmo. Eles pagam para ver Rudy em ação, criando na hora imitações dos rótulos mais famosos. Tipo, “me engana, que eu gosto!”. Para surpresa geral, em dois desses jantares, às cegas, a maioria dos convidados preferiu os vinhos falsificados, por serem mais frescos.
“Aqui estamos nós, um pequeno grupo de sete pessoas para experimentar novamente a magia do conhecimento, imaginação e arte de Rudy. E concluímos: sr. Rudy Kurniawan é um gênio vínico”, afirmou um participante de um destes eventos. O ser humano está cada vez mais esquisito, não é leitor! Caso queira saber mais, assista o filme da Netflix “Sour Grapes”. Mas nem só de orientais vive a fraude vinícola. Didier Chopin, um produtor e comerciante de Champagne, falsificou mais de 1 milhão de garrafas borbulhantes. Está em vias de pegar 4 anos de cadeia. Será que depois vai “voltar à cena do crime”? E la nave va!
Fica a questão: entre verdadeiros terroirs e fraudes, você realmente sabe o que está bebendo? Fique de olho bem aberto. Segundo Maureen Downey, especialista em fraudes vinícolas, estão replicando as garrafas com um nível de precisão nunca visto. Então, com uma taça de verdade (será?), tim, tim, brinde à vida.